Maico Misiuk - o narrador do litoral


Mais conhecido como “narrador do litoral”, Maico Misiuk, natural de São José - Santa Catarina, há 14 anos vem transmitindo a magia do rodeio em todos os cantos do país. É sucesso por onde passa, com sua voz e simpatia que o destaca e o difere. Em 2002, foi o ano em que tudo começou, quando nos treinos do CTG Os Praianos, de modo inusitado, começou a narrar. “Um amigo meu era o narrador oficial dos treinos, o Murilo Oliveira, e em uma noite chuvosa, que tinha poucas pessoas, ele queria laçar, mas não tinha quem narrasse, então recebi o convite para conduzir aquela planilha”, relata.
Maico conta que naquele momento seu desempenho foi satisfatório, e acabou dividindo a cabine em todos os treinos ao lado de Murilo. No entanto, o narrador oficial precisou sair dos treinos por motivos de outro trabalho e, a partir de então, foi convidado para assumir o seu lugar, onde ficou durante cinco anos narrando todas as quartas-feiras. “Eu narrava sozinho, com apenas uma pequena caixa de som e tínhamos em média 150 a 200 laçadores por noite e todos atiravam cinco voltas e mais a final”. O narrador define os treinos que narrou como uma escola e diz ter orgulho, pois foi onde aprendeu muito e foi a partir dali que começaram a surgir os primeiros convites para narrar rodeios.
O primeiro rodeio que narrou foi em 2003, em sua cidade, em São José – SC, nos praianos, onde foi o primeiro rodeio 24 horas do Brasil, realizado pelo patrão Israel Cunha, ele que abriu as portas para Maico, já que ainda era como um narrador reserva. “Eu só entrava em horários que por algum motivo, algum narrador não poderia estar. Foram dez dias de rodeio e eu narrei até o último dia. Foi inesquecível. Peguei as escalas na madrugada durante o dia, e foi minha estréia nesse evento marcante”.
Misiuk recebeu muito incentivo de seus amigos, que foi muito importante para continuar no caminho. Depois que a narração foi ficando mais séria, precisou abandonar o laço para se dedicar somente a seu trabalho.
A paixão e admiração pela narração não vem de hoje, pois desde criança já ouvia o futebol passando no rádio ou na Tv, só para poder escutar os narradores. Quando a profissão começou a embalar, as portas se abrir e a rentabilidade financeira chegar, percebeu que era isso mesmo que queria para sua vida.
Sobre o laço comprido, o narrador conta que além de seu sustento, a sua história como homem e como narrador, tudo que tem financeiramente e pessoalmente, deve a narração e, consequentemente, ao laço comprido. “É um dos poucos esportes que você tem todas as classes sociais participando e numa igualdade de condições. Desde criança de três anos numa vaca parada, até senhores de mais de 80 anos atirando as suas últimas armadas de sua existência”.
Entre tantos e tantos rodeios que teve o privilégio de narrar profissionalmente, Maico destaca alguns, incluindo a final do 10° Rodeio Internacional dos Praianos, em 2007, com uma equipe de SC e uma do RS que deram 24 voltas, o que é raro acontecer com equipes. “Tivemos que segurar aquela final, eu e o Murilo. Foi lindo demais, e lembro que o então governador do estado de SC, já falecido, Luis Henrique da Silveira, subiu na cabine para falar e iríamos dar uma pausa para seu pronunciamento, mas ele disse para continuarmos e não parar”. Também cita como um rodeio marcante a primeira vez que narrou a Vacaria, que seria até sexta-feira, mas foi escalado para narrar o sábado e o domingo, e a primeira vez que narrou o CLC (Circuito de Laço Comprido), na seleção de SC.
O narrador relata que sempre se prepara antes de cada rodeio, estuda algumas situações de narração com o evento e o local aonde irá. Estuda também quando colocam na responsabilidade de fazer a oração do rodeio, mas em várias situações, precisa ser no improviso, no tino e no talento. “São várias as situações inusitadas que você também pode aproveitar e fazer um momento de emoção, por isso, sempre falo que narrador você nasce sendo, não se fabrica um, com o passar do tempo conforme a dedicação de cada um acontece o aprimoramento e evolução”.
De uma geração mais nova que cresceram junto ao seu lado viajando a rodeios e com isso fica realmente feliz por dar essa parcela de contribuição na vida de cada um como laçadores, cita Sérgio Guimarães, Zenito Silva, Zé Felipe e Rafael Calegari, que são campeões internacionais. “Sou fã desses meninos dentro e fora de cancha pelo talento e pela conduta com suas famílias, como Vanderlei Vaz, Coco Leite, Benicio, Daniel Cunha, Gilson Santos, Marlon Fernandes, Evandro Mendes”.  Também diz admirar muito como laçadores e pessoas Alan Soares e Thaian De Ávila, por tudo que já conquistaram e continuam com a humildade de dois simples meninos. Já de uma geração mais antiga, pelo que fizeram pelo laço, cita Ari Correia, Sebastião Borges, Aldo Brun, Reni Soares, Aldori Delfino, Leandro Reis e Daniel Fonseca.
Apesar de que tivemos uma evolução significativa nos últimos anos no laço, em organização, qualificação dos profissionais e por entender que estamos no caminho certo, segundo Maico falta dar mais espaço na mídia para esse esporte, mais apoio do governo, que colocam tanto dinheiro em tantas outras coisas sem futuro e deixam nosso meio que além de ser um esporte e uma cultura fantástica, é o segundo mais praticado do Rio Grande do Sul, depois do futebol, sendo o terceiro em Santa Catarina e o primeiro em Mato Grosso do Sul. “Não entendo como as empresas privadas não se deram conta ainda de quanto gira em torno de pessoas e empregabilidade nos rodeios de hoje, empregos diretos e indiretos. Por isso, acho que se a mídia dar o espaço que merecemos, mais empresas e o governo irá investir e ter o retorno que almejam”.
Maico explica que o segredo por ser um dos melhores narradores do Brasil é, justamente, não pensar muito nisso e ir em busca de aprimorar e estudar sempre. “Procuro me manter tranquilo quanto a isso, não me iludo muito com elogios e nem me abalo com as críticas. Absorvo só o que realmente vai me acrescentar”. Estuda e se dedica bastante a sua profissão, procurando ser o mais correto possível e sempre que pode ajudar alguém ajuda e, principalmente, aprende muito com os amigos, com laçadores, com colegas de trabalhos, até mesmo com veterano ou iniciante.
“Aprendo algo em todo rodeio, parece ser meio repetitivo, mas é algo que não foge disso mesmo. Muita fé em Deus primeiramente, muita humildade e fazer com amor, com o coração, seja um rodeio no fundo de uma fazenda ou um rodeio internacional para grandes públicos, todos merecem o seu melhor”.
A dica ou recado que tem para passar para essas novas vozes que estão surgindo na narração é que acima de tudo, tenham muita humildade para estar sempre aprendendo, pois é uma profissão fácil de deixar subir a cabeça e com isso se perder grandes talentos.
Para Maico, rodeio é um dos poucos lugares da sociedade que existe e é valorizado pela instituição que é a base de tudo, a família. São vários que frequentam, existem as modalidades para todos de uma família participar e isso em sua opinião é o ponto alto. “Temos meninos, crianças e adolescentes que estão ali e com isso, com a cabeça longe de coisas e atitudes erradas. Se essas crianças e adolescentes vão seguir o caminho correto na vida, eu não sei, mas o que eu sei é que não vai ser ali no rodeio que irão aprender coisas erradas”.

 “Quero aqui parabenizar o Blog Entre os Tentos e todos os responsáveis. Pessoas como vocês que fazem nosso esporte crescer, ter visibilidade, e aos poucos ir ganhando o espaço na mídia que merecemos. Agradecer em meu nome e de todos os narradores de rodeio do Brasil por abrir o espaço para falarmos da nossa profissão e, evidentemente, muito feliz por ter sido escolhido no meio de tantos profissionais de qualidade. Obrigado e parabéns pelo grande trabalho”.(Maico Misiuk)
Maico Misiuk - o narrador do litoral Maico Misiuk - o narrador do litoral Reviewed by Entre os Tentos on 09:56 Rating: 5

Nenhum comentário:

Romário Bispo